Sociedade União “Fuchs” completará 100 anos nesta semana

No próximo sábado, dia 26 de março, a Sociedade Recreativa União, como é chamada atualmente, situada em Rio Negro-PR, completará 100 anos de atividades desde a sua fundação. Ao longo desse tempo o nome foi alterado diversas vezes, mas sua origem é de 1922.

Muitas pessoas se lembram do local por causa dos tradicionais bailes e festas de Carnaval, mas a história vai além disso.

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HISTÓRIA

O atual Presidente da associação, o senhor Jacob Fuchs, gentilmente me passou algumas informações sobre a história do local. Em resumo, segundo ele, a Sociedade de Agricultura “União” era um depósito de sementes dos colonos bucovinos quando foi fundada. Tinha esta finalidade. Com o passar do tempo todos tiveram seu próprio paiol em suas residências e não havia mais a necessidade de um local para estocar as sementes, por isso se tornou salão de baile. No final do ano os colonos comemoravam as colheitas e o local acabou tendo essa finalidade de festas.

No livro Os Bucovinos do Brasil de Ayrton Gonçalves Celestino, publicado em 2002, há detalhes sobre a história da Sociedade de Agricultura “União”. É um livro rico em informações sobre a imigração dos bucovinos em Rio Negro. Ele está disponível na biblioteca pública de Rio Negro para empréstimo.

De acordo com relatos do senhor Ayrton, os interesses dos bucovinos em Rio Negro fixavam-se nos assuntos da religião, escola e trabalho. Eles eram alegres e divertidos, sendo que os negócios, o clima, a saúde e acontecimentos sociais, como nascimentos, casamentos e óbitos eram os temas preferidos das conversas.

O senhor Ignácio Schelbauer era proprietário de um comércio em Rio Negro e nos finais de tarde sempre mantinha longas conversas com seus amigos. Foi assim que ele percebeu a necessidade de os bucovinos terem um ponto de reunião. Então resolveu construir um parque de reuniões em seu terreno para juntar o povo e fazer aí um lugar de confraternização. Este parque foi construído onde hoje é a “sede nova do Fuchs”.

Coreto da Sociedade Agricultura União “Fuchs”. Neste local foi construída a atual sede nova

FORMAÇÃO DA SOCIEDADE

Após a ideia da criação do parque ser concretizada, surgiu a sugestão da formação de uma sociedade com foco na agricultura. Conforme consta no livro Os Bucovinos do Brasil, os colonos bucovinos precisavam se unir e resolver uma carência no seu campo de atividades e não apenas possuir uma sociedade de lazer. Sua sociedade deveria ser voltada primeiramente para as lides agrícolas. Seria antes de tudo uma sociedade útil aos interesses comunitários, voltada para o incremento à produção agrícola e ao desenvolvimento da pecuária leiteira.

Com esta sugestão aceita e concretizada, reuniram-se os primeiros sócios fundadores que realizaram uma Assembleia Geral. A “Sociedade dos Agricultores e Apicultores de Rio Negro e Mafra” foi fundada em 26 de março de 1922. Era formada especialmente por agricultores e apicultores, a maior parte de origem bucovina e destinava-se ao melhor desenvolvimento da agricultura, não deixando de atender também ao lazer e ao social. O primeiro Presidente da associação foi Jorge Wiesenthal.

Fundadores da Sociedade dos Agricultores e Apicultores de Rio Negro e Mafra. Foto enviada gentilmente pelo Thiago Fuchs

Ainda de acordo com o livro Os Bucovinos do Brasil, as reuniões da diretoria eram realizadas na casa dos membros. Eles conversavam em alemão no dialeto bávaro, o “boarisch”, ou o “bucovino”, como muitos chamam.

Já os estatutos foram redigidos em “Hochdeutsch”, que é a denominação atribuída à variante oficial do alemão. Foram impressos em 1922 pela Tipografia Koster. Havia nove artigos. Eram os “Statuten des Vereines für Landwirtschaft u. Bienenzucht – Rio Negro Mafra” (Estatutos da Sociedade para Agricultura e Apicultura). Os estatutos foram reescritos em português, em 1923 e republicados em 1928.

No ano de 1924, segundo os registros de Ignácio Schelbauer na “Lista dos sócios que pagam”, havia um total de 157 sócios.

DIFICULDADES

Com o passar do tempo o interesse e o zelo pela sociedade cresceu muito e as dificuldades também. Auxiliar os sócios na agricultura era o principal objetivo da sociedade, mas não era fácil conseguir ferramentas e sementes de qualidade para atender a todos. E conta a história que muitos membros só pensavam em aproveitar-se da sociedade, sem dar sua colaboração. Esta situação penosa durou dois anos. Foram, depois, aceitos alguns membros da cidade, políticos, pessoas influentes que fizeram parte da diretoria.

Mas a história também conta que havia sócios idealistas e trabalhadores que não esmoreciam diante das dificuldades e levaram a sociedade em frente. O livro Os Bucovinos do Brasil cita como exemplos: Rudolfo Schafhauser, Ignácio Schelbauer, José Baumgartner e Walter Weber. Rudolfo Schafhauser foi eleito Presidente da sociedade. Ele era um lavrador simples e prático. Os membros conselheiros eram também lavradores.

POLEIRO

Ignácio Schelbauer ofereceu uma casa com um grande salão onde se realizavam as reuniões da diretoria e se promoviam comemorações festivas, os bailes e casamentos. Porque o Salão ficava no andar superior, e porque os moços que frequentavam os bailes sentavam-se no peitoril das janelas, com os “traseiros” voltados para fora, esta casa foi conhecida popular e carinhosamente como o “Poleiro”. No térreo deste prédio, eram depositadas as sementes e os materiais agrícolas, vendidos aos sócios a preços praticamente de custo, muito acessíveis.

Casa conhecida como Poleiro

TOURO OTTO

As autoridades demonstravam interesse pelo trabalho da sociedade. O Prefeito de Rio Negro, Nivaldo de Almeida, que também era sócio, conseguiu junto ao Governo do Estado do Paraná, um touro de pura raça holandesa, chamado Otto. Este touro proporcionou melhores cruzamentos, apurando-se mais a raça do gado leiteiro dos colonos bucovinos.

Foto enviada gentilmente pelo Thiago Fuchs

FONTES DE RENDA

A sociedade cobrava joias e mensalidades. Também comprava e vendia rama de aipim, batatas, trigo, centeio e vermicidas. Também realizavam festas e bailes para arrecadar dinheiro em prol da sociedade.

O touro Otto também era uma fonte de renda. Diante da dificuldade de se conseguir gado de raça pura, muitos colonos se interessaram neste benefício proporcionado pela sociedade, ingressando como sócios. Muitas pessoas vinham de longe em busca de cruzamentos ou obtenção de bezerros filhos do Otto. Aos sócios eram proporcionadas taxas reduzidas nos cruzamentos de suas reprodutoras com o Otto.

DESTAQUES

Em 1929, na Exposição do Centenário da Colonização Alemā no Paraná e Santa Catarina, realizada em Rio Negro, a Sociedade de Agricultura “União” foi contemplada com medalha de ouro. Em Curitiba, arrebatou outra medalha de ouro na Exposição do Trigo. Entre mais de 1.200 amostras de trigo colhido no Paraná, os colonos bucovinos, através da Sociedade Agricultura “União”, obtiveram a 2ª colocação e a 5ª no Paraná.

A Sociedade também participava de congressos e outros eventos relacionados com a agricultura. Assim, em 1930 um bom número de sócios participou de um congresso de agricultores do Estado do Paraná, em Curitiba, onde tiveram oportunidade de visitar locais específicos, como a chácara dos Kraemer e também foram recebidos a no Palácio do Governo pelo Interventor Manoel Ribas.

PRÉDIO HISTÓRICO DO “FUCHS”

Para que a sociedade tivesse bases sólidas e segurança patrimonial, resolveram construir uma sede ampla, em terreno próprio. Esta sede seria o que foi chamado até pouco tempo atrás de “salão velho do Fuchs”.

Compraram o parque do Ignácio Schelbauer a preço muito acessível. Todos apoiavam e ofereciam ajuda financeira. Até pessoas não pertencentes ao quadro social deram contribuição. O Barro Vermelho (atual Bairro Bom Jesus), centro dos bucovinos, foi o local escolhido para a construção.

As obras mais difíceis e trabalhosas eram feitas em comum, pelo sistema de mutirão, onde a comunidade participava. A maior parte do material foi doada por sócios e amigos. A parte principal da construção, porém, coube à empresa construtora do Sr. Martin Pfeffer.

O dinheiro para a construção da sede foi levantado junto aos sócios, mediante emissão e colocação de apólices que rendiam juros de 5% ao ano. As despesas de construção ascenderam a trinta e cinco contos de réis. Ao final, sobraram dez contos de réis em dívidas, pagas pontualmente, nos vencimentos.

Elegeu-se nova diretoria e nomeou-se uma comissão para elaborar novos estatutos, que foram aceitos, aprovados e registrados. A sociedade passou a se chamar “Agricultura União de Rio Negro”.

A sede social foi inaugurada em 1933 pelo Cônego José Ernser, aclamado Presidente de Honra. O salão de festas e o parque foram motivo de grande movimento na sociedade. O número de sócios cresceu e se aproximava de 400. Plantaram-se ciprestes em todo o parque.

De acordo com relatos citados no livro Os Bucovinos do Brasil, a diretoria cuidava para que tanto a sede como o parque estivessem sempre limpos. O terreno foi bem cercado. O salão era cedido gratuitamente para a realização de festas em benefício de igrejas, escolas e entidades filantrópicas. Para o levantamento de fundos necessários à construção da Maternidade de Rio Negro, por exemplo, foram realizadas muitas festas no parque da sociedade.

No dia 25 de julho de 1936 foi festejado o “Dia do Colono”. Nenhum bucovino faltou. Em julho de 1937, a Sociedade Agricultura “União” foi a maior promotora dos festejos do Cinquentenário das Imigrações Bucovinas a Rio Negro.

Comemoração no pátio da Sociedade Agricultura União “Fuchs” em 1974

Atualmente, 100 anos após a fundação, vem a Sociedade Recreativa União “Fuchs”, como é chamada nos dias atuais, cumprindo seus objetivos de integração entre bucovinos e seus descendentes em Rio Negro.

A “nova sede do Fuchs” foi construída no lugar do parque construído por Ignácio Schelbauer. Vários eventos já foram realizados no local, como shows nacionais, bailes, formaturas, casamentos, palestras, entre tantos outros. O Fuchs por vários anos foi sede para a tradicional Bucovinafest.

A sede nova continua recebendo eventos atualmente, mas infelizmente o “salão velho do Fuchs” não resistiu ao tempo e foi demolido recentemente, mas as boas lembranças certamente permanecerão na mente de quem teve o privilégio de conhecer o local.

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Uma das minhas boas lembranças do “Fuchs” é o show dos Mamonas Assassinas Cover que eu consegui assistir no local nos anos 90. Apenas consegui porque o meu saudoso pai Acir Lisboa trabalhou por anos como segurança no Fuchs à noite e nos finais de semana para conseguir dinheiro extra para a nossa família. Eram tempos difíceis e a sua determinação de uma pessoa trabalhadora é algo que me inspira sempre. Sendo o meu pai um segurança no local, ele conseguia me levar em eventos infantis no Fuchs sem precisar pagar o meu ingresso.

Contato com a Sociedade Recreativa União “Fuchs”:

FOTOS DIVERSAS

Salão velho do Fuchs em 1992

Salão velho do Fuchs em 2008

Salão velho do Fuchs em 2014

Salão velho do Fuchs em 2014

Salão velho do Fuchs em 2008

Nova sede do Fuchs

Nova sede do Fuchs em 2014

Nova sede do Fuchs em 2013

Nova sede do Fuchs

Nova sede do Fuchs

O local atualmente sem o prédio histórico

REFERÊNCIAS

CELESTINO, Ayrton Gonçalves. Os Bucovinos do Brasil. Curitiba: Torre de Papel, 2002.

  1. Imagem de perfil Osvaldo Basile de Vargas

    Uma ótima lembrança pra todos que frequentaram o Fucks. frequentei desde 1965 até 1974.Agora morando novamente em Rio oNegro. U grande abraço ao povo Rio Negrense.

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